segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

[ Review ] Fringe

Depois de cinco temporadas, chega ao fim a controversa série Fringe (exibida na TV aberta brasileira sem muito alarde como Fronteiras). Em terras tupiniquins, a Warner fez uma grande maratona neste final de semana de carnaval, permitindo que se visse, de uma vez só, os 13 episódios da temporada derradeira. Nada mais lógico, levando-se em conta que este quinto ano nada mais foi do que um grande filme em 13 partes. Foi feita pra isso, planejada exatamente para ser o desfecho para a série que, muitas vezes, esteve a perigo do cancelamento sem uma conclusão digna, graças aos números nunca empolgantes da audiência americana.

Contexto de lado, este texto se pretende uma reflexão sobre a série como um todo, desde seu primeiro e grandioso episódio e o primeiro evento Fringe no qual Olivia se envolveu, até o sacrifício de Walter para que seu filho e a agente do FBI pudessem viver o seu felizes para sempre. A primeira consideração me parece óbvia: não houve um grande arco planejado para a série como um todo. Ou seja, não houve um elemento que fosse criado desde o princípio para ser resolvido, mesmo que parcialmente, até o final do seriado. A temática, mesmo ela, foi mudando ao longo do tempo. Deixamos de acompanhar eventos estranhos e isolados da ciência de borda, por assim dizer, para acompanhar questões como paradigmas temporais, mundos alternativos e futuro apocalíptico.

Claro que, desde sempre, os observadores estavam lá. Sempre foi uma das grandes diversões encontrar o sujeito em cada episódio exibido, presenciando o tal evento bizarro. Mas não acredito que isso seja uma marca de iniciar ali a trama que os envolveria em uma invasão e os transformaria nos grandes antagonistas da temporada final. Talvez, se formos por outro caminho, o grande arco foi mesmo o desenvolvimento das relações entre Peter e Walter enquanto filho e pai, bem como no amadurecimento de Olivia e seus conflitos internos. Em outras palavras, assim como o caminho escolhido para Lost (curiosamente, também originado na mente nerd de J. J. Abrams), Fringe se focou no desenvolvimento e no aprofundamento de seus personagens.


Ainda assim, foi muito interessante ver alguns pontos da série serem retomados ao final, ajudando a compor um grande ciclo, como as viagens entre universos paralelos, alguns eventos que fizeram parte das temporadas anteriores (com direito a observador flutuante, cérebro de homem-porco-espinho e rostos cicatrizados ao extremo) e o famigerado Cortexiphan, cada qual com sua função narrativa, ao mesmo tempo que gerava uma espécie de fan service. Mesmo a Gene esteve presente em um dos vários momentos emotivos de despedida que marcaram principalmente a metade final da quinta temporada.

Mas, de fato, talvez o que possa ter incomodado mais seja a fragilidade do plano final de Walter. Tratado o tempo todo como a salvação praticamente infalível do mundo, o plano se baseava na aposta que as pessoas do futuro mudariam de ideia no rumo de suas pesquisas científicas ao verem o garoto que desenvolveu inteligência superior conjugado à emoção. Ora... e se eles simplesmente concordassem que o garoto era mesmo só uma anomalia? E se Walter não conseguisse conversar com eles? E se o menino simplesmente fosse atropelado no caminho? Para um cientista brilhante e uma série que lhe dá com o improvável, mas ainda assim científico, faltou um pouco de lógica no plano onde todos investiram todas as fichas.

Enfim, com todos os deslizes, as mudanças de rumo e as derrapadas na audiência, com todas as críticas e as comparações (inevitáveis) com Arquivo X e Lost, com todas as piadas de Walter e as caras sofridas de Olivia, Fringe se mostrou uma ótima experiência. Não é perfeita, nem o foi em sua temporada final, mas nem por isso deixa de estar acima da média no que consta os seriados americanos. Ótima ficção científica em dias onde o tema está bastante esgotado pela televisão. Ótimo também o fato de terem dado a oportunidade dos produtores fecharem a série com planejamento (e não cancelando quando não haveria mais tempo, como ocorreu com Heroes e tantas outras). Que seja um bom exemplo a ser seguido.




3 comentários:

Culturalmente Pop disse...

Acredito que a falta de um arco principal mais bem definido, da primeira até a última temporada, se deva a constante ameaça de cancelamento. Acho que isso fazia com que eles pensassem em cada temporada coma a última, então ao ser renovada acabavam obrigados a "reinventar" as coisas.

Mas como você mesmo disse, isso não atrapalha em nada a experiência de assistir a série, que mesmo tendo várias deslizes é extremamente eficiente no que se propõe.

Paulo Montanaro disse...

Concordo plenamente... mas creio que fez até bem pra série, pois sempre trouxe um novo respiro de originalidade.

Obrigado pelo comentário.

Nah Dias disse...

ótimo texto, parabéns! mesmo sendo impossível cobrir toda a grandiosidade de Fringe em vários aspectos, creio que é suficiente pra atiçar a curiosidade de quem não assistiu a série ainda :)

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