terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Star Wars - Episódio I: A Ameaça Fantasma

Depois de algumas décadas, o universo Star Wars voltou às telas do cinema, não com uma nova saga de Luke Skywalker ou Han Solo, mas com uma nova trilogia que conta o que ocorreu para se chegar ao confronto apresentado em Star Wars - Episódio IV: Uma Nova Esperança. Fica claro aqui que a saga não é sobre a ascensão de Luke, um garoto com uma vida sofrida qualquer em um planetinha qualquer, à um cavaleiro Jedi, mas sim o caminho de Anakin Skywalker, partindo de um garoto criativo e curioso até se tornar o Sith mais temido do universo. A proposta é, desta forma, contar as histórias das quais só se ouviu falar nos filmes anteriores, como as guerras clônicas, o treinamento de Anakin enquanto aprendiz de Obi-Wan Kenobi e tudo mais, focando na evolução de personalidade e atitudes do talentoso garoto que poderia ser o equilíbrio da Força e que se deixou seduzir pelo lado negro dela. Star Wars - Episódio I: A Ameaça Fantasma é então trazido à vida, dando uma nova roupagem para o visual da série, buscando resgatar a empatia que o público criou com os personagens clássicos para contar uma nova-velha história.

De início, a intensão é realmente mostrar que estamos tratando de um lugar comum e de uma história muito mais complexa do que se poderia prever de longe: conflitos, Senado, Federação do Comércio, invasões de territórios e tantas outras tramas políticas já são jogados ao espectador durante o clássico letreiro com o tema magistral de John Willians. Assim, já somos jogados em uma situação de conflito, onde Jedis são enviados para negociação. Dentre eles, o jovem aprendiz Obi-Wan. Fica claro nessa cena de abertura que a tecnologia permite que as batalhas e as criaturas imaginadas por George Lucas se tornem possíveis. No que se segue, vemos o intrincado ponto de partida se resumir em duas partes: a primeira é a trama de Anakin e os jedis em Tatooine, que culmina na vitória do garoto em uma corrida de pods e na sua libertação da condição de escravo. Ainda que não tenha sido nem um pouco importante para a trama - teoricamente, a aposta feita na corrida serve para que se conserte a nave Nubian que transporta os cavaleiros e a princesa Amidala, e se liberte o garoto, mas obviamente que dois cavaleiros jedis poderiam conseguir ambas as coisas de um povo pouco evoluído belicamente, como pareceu, de outra forma. Ainda assim, a cena é muito bem produzida e divertida. Visualmente, a melhor cena do longa e certamente uma das melhores de toda a saga.

A segunda parte trata da batalha em Naboo, esta mais interessante para a trama. Se Jar Jar Binks é um personagem nem um pouco adorado pelos fãs da série, seu povo protagoniza uma batalha muito bacana contra o exército separatista de dróids. Ainda que exagerada na parte cômica, foi a primeira vez que uma batalha produzida basicamente com personagens em computação gráfica conseguiu atingir um nível épico e gigantesco. Ainda que os Stormtroopers sejam insubstituíveis, não se pode dizer que fizeram falta nessa cena ou no filme inteiro. Nesse ponto, o filme acerta em cheio exatamente no ponto que erra feio: a tecnologia trouxe à saga um novo patamar, mas também deslumbrou tanto a produção que se esqueceu de desenvolver melhor os personagens, seu carisma e suas relações, ponto fundamental na trilogia original. O filme é super-saturado de efeitos belíssimos, mas que não conseguem suprir os defeitos do desenvolvimento dos personagens e os buracos no roteiro.

Não que o elenco seja ruim. Longe disso. Nomes como Liam Neeson, Natalie Portman e Ewan Mcgregor dão um show, guardadas as devidas proporções, em seus personagens. Mesmo os personagens digitais são muito convincentes em suas expressões. Exceto pelo garoto robótico que interpreta Anakin criança, não há o que se questionar no trabalho dos atores. O problema é realmente o desenvolvimento dos personagens na trama. Se os diálogos de Lucas sempre foram sofríveis (para não dizer vergonhosos), aqui fica ainda mais evidente a fraca coerência nas ações e relações que cada um dos personagens desenrola durante o filme. Ainda que se tente trazer ao filme elementos que o liguem com a saga original, como o já citado Obi-Wan, além dos dróides R2-D2 e C3PO, eles pouco estão relacionados à imagem que se tinha deles, ou a que se fazia deles mais novos. O jovem padawan parece perdido o filme inteiro, como se estivesse lá só para mostrar que acompanhou Anakin desde o início.

No final, com a grande batalha espacial de um lado e a competente luta de sabres de luz de outro, o filme cumpre bem seu papel, consegue encantar e trazer a magia de Star Wars de volta às telas, mas fica a sensação que deveria ser muito mais. Se na saga original, o que fica mesmo é o rosto e a expressão dos personagens, seu carisma e sua identificação, o que fica de A Ameaça Fantasma é a beleza visual das grandes cenas, o que mostra que há algo de diferente entre os dois momentos. Não que seja um filme ruim, longe disso, mas talvez pela grande aura criada em torno de uma das sagas mais míticas do cinema, o filme não atinge a sensação que se esperava. Cumpre o seu papel, mas não entra para a história. Parece ser uma expectativa muito grande, mas nada é exagerado para um filme de Star Wars.
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